Há livros que nos trazem reflexões tão profundas, a ponto de nos marcarem tão fortemente que, mesmo anos depois de termos terminado sua leitura, ainda permanecem vivos em nós. Foi o que aconteceu entre mim e "A HORA DA ESTRELA", de CLARICE LISPECTOR. Um livro que de cara surpreende pela genialidade da autora ao contar duas histórias que transcorrem paralelamente na obra: a história da própria narrativa (um exercício maravilhoso e igualmente complexo de metalinguagem), em que o narrador se apresenta como Rodrigo S.M. (aparentemente um disfarce da autora pra falar de si mesma, com um certo distanciamento, sem sentimentalismos - e aí uma crítica ao machismo pode ser lida nas entrelinhas e assunto pra uma outra postagem, quem sabe) e a história de Macabéa, uma migrante nordestina vivendo no Rio de Janeiro, cujo único prazer que tem na vida é ouvir um rádio-relógio que lhe fora emprestado por uma de suas colegas de quarto da pensão em que mora. A ingenuidade de Macabéa é tamanha que é impossível um leitor não se pegar perguntando se existe um ser humano assim (eu juro que conheço um caso muito parecido com o de Macabéa). Mas o melhor do livro são os sentimentos que ele faz emanar e a maior de todas as reflexões que ele provoca: Há pessoas que passam uma vida inteira no anonimato, invisíveis aos olhos da sociedade, mas com histórias, experiências de vida que mereciam ganhar todos os holofotes imagináveis. Todavia, somente quando morrem é que ganham o "estrelato". E nesse ponto da leitura, é impossível não se incomodar, não doer a constatação de como nós somos ingratos uns com os outros. Passamos uma vida convivendo com pessoas magníficas, mas, por uma razão ou por outra, sem dar-lhes o devido valor. Daí, quando elas partem, lá estamos nós...
Quantas Macabéas devem existir pelo mundo esperando serem descobertas e entendidas?
OBS.: O texto acima tem como único objetivo despertar o interesse pela leitura de "A hora da estrela".
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