segunda-feira, 23 de julho de 2012

As leituras de Tufão em "Avenida Brasil"


Na novela Avenida Brasil, a personagem Nina, vivida pela atriz Débora Falabela, tem indicado livros de sua biblioteca particular a Tufão, interpretado por Murilo Benício, que, inocentemente (pelo menos é o que aparenta), tem se deleitado com as histórias de cada um deles. O que Tufão não sabe é que essas indicações fazem parte de uma estratégia de Nina para abrir os olhos do patrão em relação à mulher.

O primeiro livro que a cozinheira emprestou ao ex-jogador foi “A metamorfose” de Franz Kafka, uma das mais importantes obras da literatura mundial, conta a história de um homem que é transformado em um inseto monstruoso, cheio de patas. A partir de então, os pais se distanciam e a irmã também começa a sentir medo dele. Mas, como era o único que trabalhava na casa, eles têm que arranjar outro modo de sustento da família. Sozinho, o personagem se vê diante dos conflitos de sua metamorfose, que vai muito além da questão física e destaca os absurdos do comportamento humano.

                                                                                       


O segundo livro foi “Madame Bovary”, de Gustavo de Flaubert. O romance conta a história de uma mulher que trai o marido. (Alguma semelhança com Carminha?)





“A interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud foi outra obra lida por Tufão, cada vez mais interessado em entender o comportamento humano.






Outra leitura do patrão, também indicada pela cozinheira, foi “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, cujo protagonista mantém um relacionamento com uma mulher casada, Virgília. (Alguma lembrança de Carminha e Max?)




E continuando a estratégia de tentar abrir os olhos de Tufão por meio de mensagens ocultas, como não poderia deixar de ser, Nina indicou “Dom Casmurro”, também de Machado de Assis. O romance aborda temas como ciúme e traição, a partir da desconfiança de Bentinho, narrador-personagem, de que sua mulher, Capitu, estaria lhe traindo com seu melhor amigo.




Cheias de mensagens ocultas sobre a trama da novela, todas essas obras são excelentes indicações para os amantes da boa leitura e para aqueles que querem se iniciar nessa área.

Fica a dica.

domingo, 22 de julho de 2012

Lendo...








Bastante corajoso o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, de Luiz Felipe Pondé ataca religiosos, feministas e critica os politicamente corretos dizendo que “são autoritários em sua essência porque supõem estar salvando o mundo”.
 Estou lendo e amando.
À medida que avanço na leitura, me surpreendo com frases memoráveis como:
“O futuro do mundo é ser brega.”
“Os homens não são iguais – os poucos melhores carregam o mundo nas costas.”
“A pressão pela “crítica ao macho” contamina as relações. Porque, na prática, as mulheres só aguentam a sensibilidade masculina até a página três.”

Uma obra que visa mudar a forma como enxergamos as coisas.

Vale muito a pena ler e se deliciar com as tiradas de Pondé.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dica de leitura


O romance que inspirou a novela.





O romance entre o sírio Nacib e a mulata Gabriela, um dos mais sedutores personagens femininos criados por Jorge Amado, tem como pano de fundo, em meados dos anos 1920, a luta pela modernização de Ilhéus, em desenvolvimento graças às exportações do cacau. Com sua sensualidade inocente, Gabriela não apenas conquista o coração de Nacib como também seduz um sem-número de homens ilheenses, colocando em xeque a lei que exigia que a desonra do adultério feminino fosse lavada com sangue.
Publicado em 1958, o livro logo se tornou um sucesso mundial. Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras mais aclamadas mundo afora. E agora, mais uma vez, uma livre adaptação da obra é sucesso na televisão brasileira.

A foto


Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Paulo Mendes Campos.

Cuidado com o que você tatua em seu corpo!


Imagine uma pessoa passar tempos pra se decidir por fazer uma tatuagem e, depois de feita, descobrir que ela contém erros absurdos de português. 













PS: Ainda bem que essas foram nas costas. Eles não terão que ver essas barbaridades todos os dias. (rsss)





Mas... o que dizer desta?


Essa nossa língua...












Cuidado com a concordância!



“HAVIAM" COISAS

Felipe Pinheiro, meu saudoso amigo, costumava fazer uma brincadeira que adoro repetir sobre a epidemia do “pra mim fazer”. Quando um “pra mim andar” ou “pra mim comer” lhe feria os ouvidos, meu compadre franzia as sobrancelhas e repetia, entre o irritado e o desesperado: “Mim não faz nada! Mim não anda! Mim não come! Mim não faz coisa nenhuma!”.

Existem infindáveis “mins” realizando façanhas por aí, com o risco, inclusive, de ser aceitos pela norma culta. Se os que defendem que a linguagem já nasce com o homem estiverem corretos, e o neném berrar na sala de parto seguindo a concordância, o “pra mim errar” deve ser um defeito grave de fabricação.
     Meu mim não age. É dos poucos orgulhos que eu tenho do meu português. Tenho um conhecimento pífio de gramática, escrevo de ouvido, herança da escola experimental. Passei anos com medo de desejar um bom-dia por escrito ao João Ubaldo Ribeiro. “Será que tem hífen?”, eu pensava. Um bloqueio assustador, como se estivesse prestando um exame. Só usava frases curtas, quase bilhetes e, mesmo assim, no sufoco.

    Recentemente, eu me correspondi com um conterrâneo do Ubaldo igualmente culto e amante da última flor do Lácio. Fui bem, consegui desenvolver um raciocínio aceitável, mas, lá no fim do último parágrafo da caudalosa epístola, escrevi que “haviam incongruências”. As incongruências não importam, já o haviam…
    “No Brasil, usamos o verbo ter no lugar do haver. ‘Tem um buraco enorme do lado esquerdo.’ Pois bem, mesmo que fossem dois (ou sete) buracos, o verbo permaneceria no singular: ‘tem sete buracos enormes do lado esquerdo’. Igual a ‘há sete buracos enormes do lado esquerdo’. Até aí, tudo bem, ninguém erra se usar o verbo haver: ninguém diz ‘hão sete buracos enormes’. Mas, se vai para o passado, neguinho fica com medo de não fazer a concordância e flexiona o verbo: ‘haviam sete buracos’. O certo é ‘havia sete buracos’. Nem ‘houveram sete assaltos’ (saí do buraco porque não dá para fazer uma frase convincente com buracos e o verbo no pretérito perfeito: houve, houveram; o imperfeito é havia, haviam).
    O certo é ‘houve sete assaltos’. Ou ‘teve sete assaltos’. Claro que com o verbo ter você vai encontrar situações de flexão correta: ‘Os bancos tiveram sete assaltos este mês’. Porque aí o sujeito da frase é ‘os bancos’. É como dizer ‘os bancos sofreram sete assaltos’. Mas dizer que meramente houve assaltos não implica ‘assaltos’ ser o sujeito. Houve o que houve, há o que há, havia o que havia; o verbo haver aí é impessoal. O verbo ter, quando o substitui em casos iguais, também.”

    Agradeci de joelhos a paciência e a aula, mas o lodaçal piorou. E existe? Existem sete buracos? Ou existe sete buracos? Quem existe é o buraco, então, deve ser existem. E os dias? “Hoje é 15 de setembro”? Ou “são 15”? As horas eu sei que são. E faz? É impessoal ou não? “Fazem quinze anos” ou “faz quinze anos”? É faz. A razão, segundo fui informada, beira a filosofia: é porque o tempo é.

    O pediatra do meu filho tinha 14 anos quando enfrentou uma sequência de zeros distribuída democraticamente pelo professor belga de matemática do Santo Inácio. O pai recorreu a aulas particulares com um conterrâneo do mestre. O europeu mal-humorado explicou que só existem quatro operações relevantes: soma, subtração, multiplicação e divisão, depois, escreveu na lousa: 2+2, 2-2, 2×2 e 2:2 e pediu que o aluno resolvesse. Quando o rapaz terminou, o professor aconselhou um reforço em português. A dificuldade estava na leitura do enunciado dos problemas. Todas as falhas de compreensão pertenciam à lógica.
    Nesse quesito, português só perde para a física em matéria de dificuldade.

    O pouco que fixei, hoje, só me serve para entregar a idade.
    A última reforma ortográfica dizimou os acentos. O computador conserta, mas eu redigito o agudo do “o” de “jóia” e “clarabóia”. Não aguento “joia” e “claraboia”. Vôo, também, não tem mais circunflexo, virou “voo”. E não se distingue mais “história” de “estória”, uma sutileza que me agradava imenso.
    Depois de tanta ignorância confessa, só não peço demissão por medo de redigir a carta.
                                                                                                                        Por Fernanda Torres.
Crônica publicada em junho/2012 na revista Veja Rio. 


Anatomia de um leitor