segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Repensando a leitura na escola



Um dos objetivos propostos pelos novos Parâmetros Curriculares Nacionais no ensino de Língua Portuguesa é levar o aluno a, dentre outras habilidades: saber distinguir e compreender o que dizem os diferentes gêneros de textos, entender que a leitura pode ser uma fonte de informação, de prazer e de conhecimento e ser capaz de identificar os pontos mais relevantes de um texto. Essas propostas passam, necessariamente, pela apropriação da leitura como prática social. Em outras palavras, não basta aprender a ler (e a escrever) – tornar-se alfabetizado – é preciso atingir o letramento.
Como conseguir, então, essa "proeza"?
Primeiro, precisamos ter em mente que ler é o exercício do cérebro. Assim como nadar é uma habilidade que exige treino, ler também é uma conquista. Exige horas de dedicação e, muitas vezes, de renúncias. É o movimento de aquisição não só do código, mas de conhecimento de mundo. Depois, que um dos objetivos do ensino de português deve ser a criação de situações em que os alunos tenham oportunidade de refletir sobre os textos que leem. Logo, há que se primar, também, pela diversidade textual.
Assim, é importante que o exercício dessa prática inicie-se com uma diversidade generosa de textos ao alcance do educando, para que ele sinta-se livre para escolher aquele que me melhor lhe aprouver.
Para tanto, não basta o professor conduzir os alunos à biblioteca da escola e mandar que peguem um livro para ler, ou simplesmente selecionar uma pequena variedade de nomes de livros que ele mesmo leu na escola e gostou ou que outros colegas indicaram e solicitar a compra dos mesmos aos alunos. É necessária uma seleção prévia desses livros, que deve ser bastante cuidadosa e levar em conta o nível de leitura em que os alunos se encontram, o interesse da turma e individual (isso pode ser conseguido numa conversa informal anteriormente, em sala de aula) e a vivência de cada um.
Ao levar em consideração o contexto em que o texto é produzido e as vivências e realidade do aluno, aumenta-se a possibilidade de atrair a atenção do aluno-leitor. Essa idéia corrobora o princípio da leitura e seus três protagonistas: texto-mundo-leitor. A mensagem do texto deve relacionar-se com o leitor e sua realidade. Esta é a função formadora da leitura. Segundo tal princípio, é o leitor, partindo de sua compreensão de mundo, que dá vida ao texto. Porém, precisamos ter em mente que não se pode passar todo o tempo oferecendo aos alunos apenas aquelas leituras que reproduzem suas vivências. Acredito que isso é, sim, necessário, mas no início da formação do leitor, no período de busca pelo prazer do texto. Depois que se percebe uma certa intimidade do aluno com a leitura, é importante que o apresentemos a outros textos, que reproduzam outras realidades. Afinal, ler também é buscar informação, fonte de conhecimento. E, principalmente, porque todo leitor precisa avançar em seus níveis de leitura, pois chega-se um momento que determinados padrões de textos já não nos chamam mais a atenção, nossa maturidade leitora os rejeita.
Portanto, se o nível de leitura elevou-se, não terá mais sentido continuar a ler aquilo que já está aquém das nossas possibilidades de compreensão. Os níveis de textos oferecidos devem, então, ser mais avançados.
Percebe-se então que a leitura na escola deve ir além do momento de conquista, ou melhor, a formação do leitor deve ir além da aquisição do gosto pela leitura. Ela deve acontecer de forma que o leitor aprenda a assumir diferentes posturas ante o texto. Vejamos então algumas considerações acerca delas:
1)A leitura para busca de informações - Uma leitura de informação não basta ser somente aquela feita em jornais, textos científicos, ela também pode ocorrer em romances para buscar informações sobre o comportamento, o ambiente da época, dentre outros tantos aspectos.
2) Pensando na leitura enquanto base para a boa produção textual, é viável perceber então, a leitura para estudo do texto como uma boa oportunidade para reconhecer as características que naquele texto o fizeram eficiente.
3) Há também a leitura – pretexto que não deve ser entendida aqui como aquela atividade em que o professor utiliza o texto para o aluno localizar nele substantivos, verbos, orações subordinadas, etc., mas como um texto que, por exemplo, ilumine o surgimento de outro texto escrito; de novas formas de pensar e ver o mundo.
4) Por último, a leitura – fruição como postura do leitor ante o texto, uma vez que esta anda tão sumida das aulas de língua portuguesa – "o ler por ler, gratuitamente"; ler por prazer.
Não posso concluir esse post sem mais uma vez salientar que, para que tudo isso aconteça de fato, há que se entender que precisamos soltar as amarras do nosso aluno-leitor para que ele seja sujeito de suas escolhas e do seu tempo de leitura.

domingo, 16 de agosto de 2009

A leitura e a escola - Reflexões



Muito se tem falado sobre o problema da leitura e escrita no Brasil: Os alunos não conseguem produzir textos coesos e coerentes; não têm interesse por boas leituras, o que poderia contribuir para sua transformação em produtores de textos significativos, coerentes e coesos, capazes de lidar com os diferentes gêneros textuais na escola e na sociedade em que vivem.
Mas, em se tratando de boa leitura, de que leitura se fala? De textos impressos?
É bem simples afirmar que os alunos não leem quando há sempre alguém determinando o que eles devem ler. Nesse caso, não escolhem os livros e, muitas vezes, leem sem envolvimento, apenas por obrigação o que lhe foi imposto sem nenhuma preocupação com suas preferências. Onde está a autonomia do leitor? Seu campo de interesse não é levado em conta.
Afirmações como estas são decorrentes do fato de que tem sido muito frequente observar que, em salas de aula, é comum utilizar como principais instrumentos de leitura apenas livros escolhidos pelos professores, anulando a participação do aluno; ou o livro didático e suas variações (módulo, apostila, reproduções xerográficas), onde são encontrados textos fragmentados, a serem utilizados apenas como pretextos para outras atividades, tais como abordagem gramatical, ensino da ortografia para apropriação do sistema de escrita e conhecimento do vocabulário. Esse fim utilitário descarta todas as possibilidades de análise que uma leitura prazerosa pode oferecer. Sem contar que retalhos de texto não contêm todas as informações implícitas e explícitas das intenções do leitor para o autor, necessárias para que haja uma boa recepção das ideias do texto.
Outro problema refere-se à "aceitação" assustada dos alunos aos livros escolhidos pelo professor sem nenhuma interferência daquele que deveria ser o principal interessado, o próprio educando. O que decorre do fato de a apresentação da leitura (quando há), distribuição (no caso, principalmente de escolas públicas) ou indicação para compra (mais comum em escolas particulares) virem sempre atreladas à informação de que "valerá ponto". Ou seja, o livro deverá ser lido num prazo determinado pelo professor para uma avaliação escrita.
Dessa forma a leitura não contribui para a formação do leitor, e sim, para o distanciamento entre aluno e biblioteca – aluno e livros. O contato com um livro ou a ida a uma biblioteca passa, então, a significar avaliação, obrigação e não apenas prazer, desejo por novas descobertas, aquisição de novos conhecimentos, desenvolvimento de habilidades para interagir e compreender os fatos do mundo, bem como, refletir e opinar de forma consciente e precisa, tanto através da própria leitura quanto da escrita. Uma vez sabendo que esta última, quando feita de forma coerente e coesa, é fruto de bons hábitos de leitura.
A escolha das tipologias textuais também pode interferir negativamente no processo de formação de leitores, pois, muitas vezes, são distantes da realidade vivida pelo aluno; não lhe oferecem nenhum sinal de familiaridade com seu mundo.
Sendo assim, uma vez que não são eles, os próprios alunos, sujeitos ativos em um dos momentos cruciais do processo de leitura, tendo em vista que outros (os professores) escolhem por eles o quê, para quê e em quanto tempo devem ler, dificilmente o que deveria ser o objetivo primordial desses momentos será alcançado, que é o desenvolvimento do gosto pela leitura e, consequentemente, a formação de leitores maduros.
Assim, se os textos escritos não apresentarem nenhuma ligação com o cotidiano do educando ou não forem do seu interesse, e se este não for preparado para compreender as formas de linguagem que o rodeiam, possivelmente a leitura não terá a funcionalidade que dela se espera: contribuir para a formação de leitores autônomos em constante interação com o mundo linguístico que os cerca e preparados para a produção de textos em que suas opiniões e reflexões sobre o mundo são expostas de forma coerente e coesa.
Sabemos que o leitor precisa avançar em outros níveis de leitura, não ficar apenas habituado àquelas comuns à sua vivência, mas, para que esses avanços ocorram de maneira eficiente e autônoma, é preciso estar preparado. As etapas de formação precisam ser respeitadas. E a melhor forma de incentivar e iniciar o educando a aventurar-se no mundo da leitura é ensiná-lo, primeiro, a ler o seu próprio mundo.
Portanto, se quisermos formar leitores autônomos e, conseqüentemente, produtores eficientes de textos, teremos que possibilitar aos nossos alunos a busca consciente do prazer de ler. O que só será possível se trabalharmos essa autonomia de que tanto falamos, quando mencionamos a expressão "formação de leitores autônomos", desde o início do processo, que parte da escolha do tipo de leitura, do tempo de duração e da decisão do "para quê ler?"