Muito se tem falado sobre o problema da leitura e escrita no Brasil: Os alunos não conseguem produzir textos coesos e coerentes; não têm interesse por boas leituras, o que poderia contribuir para sua transformação em produtores de textos significativos, coerentes e coesos, capazes de lidar com os diferentes gêneros textuais na escola e na sociedade em que vivem.
Mas, em se tratando de boa leitura, de que leitura se fala? De textos impressos?
É bem simples afirmar que os alunos não leem quando há sempre alguém determinando o que eles devem ler. Nesse caso, não escolhem os livros e, muitas vezes, leem sem envolvimento, apenas por obrigação o que lhe foi imposto sem nenhuma preocupação com suas preferências. Onde está a autonomia do leitor? Seu campo de interesse não é levado em conta.
Afirmações como estas são decorrentes do fato de que tem sido muito frequente observar que, em salas de aula, é comum utilizar como principais instrumentos de leitura apenas livros escolhidos pelos professores, anulando a participação do aluno; ou o livro didático e suas variações (módulo, apostila, reproduções xerográficas), onde são encontrados textos fragmentados, a serem utilizados apenas como pretextos para outras atividades, tais como abordagem gramatical, ensino da ortografia para apropriação do sistema de escrita e conhecimento do vocabulário. Esse fim utilitário descarta todas as possibilidades de análise que uma leitura prazerosa pode oferecer. Sem contar que retalhos de texto não contêm todas as informações implícitas e explícitas das intenções do leitor para o autor, necessárias para que haja uma boa recepção das ideias do texto.
Outro problema refere-se à "aceitação" assustada dos alunos aos livros escolhidos pelo professor sem nenhuma interferência daquele que deveria ser o principal interessado, o próprio educando. O que decorre do fato de a apresentação da leitura (quando há), distribuição (no caso, principalmente de escolas públicas) ou indicação para compra (mais comum em escolas particulares) virem sempre atreladas à informação de que "valerá ponto". Ou seja, o livro deverá ser lido num prazo determinado pelo professor para uma avaliação escrita.
Dessa forma a leitura não contribui para a formação do leitor, e sim, para o distanciamento entre aluno e biblioteca – aluno e livros. O contato com um livro ou a ida a uma biblioteca passa, então, a significar avaliação, obrigação e não apenas prazer, desejo por novas descobertas, aquisição de novos conhecimentos, desenvolvimento de habilidades para interagir e compreender os fatos do mundo, bem como, refletir e opinar de forma consciente e precisa, tanto através da própria leitura quanto da escrita. Uma vez sabendo que esta última, quando feita de forma coerente e coesa, é fruto de bons hábitos de leitura.
A escolha das tipologias textuais também pode interferir negativamente no processo de formação de leitores, pois, muitas vezes, são distantes da realidade vivida pelo aluno; não lhe oferecem nenhum sinal de familiaridade com seu mundo.
Sendo assim, uma vez que não são eles, os próprios alunos, sujeitos ativos em um dos momentos cruciais do processo de leitura, tendo em vista que outros (os professores) escolhem por eles o quê, para quê e em quanto tempo devem ler, dificilmente o que deveria ser o objetivo primordial desses momentos será alcançado, que é o desenvolvimento do gosto pela leitura e, consequentemente, a formação de leitores maduros.
Assim, se os textos escritos não apresentarem nenhuma ligação com o cotidiano do educando ou não forem do seu interesse, e se este não for preparado para compreender as formas de linguagem que o rodeiam, possivelmente a leitura não terá a funcionalidade que dela se espera: contribuir para a formação de leitores autônomos em constante interação com o mundo linguístico que os cerca e preparados para a produção de textos em que suas opiniões e reflexões sobre o mundo são expostas de forma coerente e coesa.
Sabemos que o leitor precisa avançar em outros níveis de leitura, não ficar apenas habituado àquelas comuns à sua vivência, mas, para que esses avanços ocorram de maneira eficiente e autônoma, é preciso estar preparado. As etapas de formação precisam ser respeitadas. E a melhor forma de incentivar e iniciar o educando a aventurar-se no mundo da leitura é ensiná-lo, primeiro, a ler o seu próprio mundo.
Portanto, se quisermos formar leitores autônomos e, conseqüentemente, produtores eficientes de textos, teremos que possibilitar aos nossos alunos a busca consciente do prazer de ler. O que só será possível se trabalharmos essa autonomia de que tanto falamos, quando mencionamos a expressão "formação de leitores autônomos", desde o início do processo, que parte da escolha do tipo de leitura, do tempo de duração e da decisão do "para quê ler?"
olá, sou estudante de Pedagogia e gostaria de saber se é possível fazer citações de um blog num Pré-Projeto de Pesquisa ou TCC, e se você me permite fazer citações deste seu artigo no meu projeto, que é sobre a leitura.
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