domingo, 7 de outubro de 2012
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
O blog internacionalizou-se!
Com quase 30.000 acessos, o blog Nossa Língua ganhou o mundo!
Obrigada, amigos "internacionais"!!
Visualizações de página por país (16/8 a 23/8/2012)
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quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Campanha eleitoral começa com erros absurdos de português
A propaganda eleitoral em Porto Alegre começou mal para o PSDB. Nas legendas que acompanhavam as mensagens dos candidatos a vereador apareceram palavras como "ensentivo", "pesso", "disperdiço", "trofel", "pulítica" e "concurço". (Veja imagem abaixo)
Fonte: www.terra.com.br
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Aniversário do blog
Hoje, 17 de agosto, é o 3º aniversário do blog Nossa Língua.
Meus sinceros agradecimentos a todos que acompanham minhas publicações aqui neste espaço.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Começou!!
Para conhecer a programação completa da 5ª Feira do Livro, acesse: http://www2.uefs.br/feiradolivro/programacao.pdf
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Alguns erros dos principais jornais que circulam por aí:
“Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para
a satisfação dos habitantes.” (Habitantes do cemitério felizes pela instalação
de água corrente???) – JORNAL DO BRASIL
“O aumento do desemprego foi de 0% em novembro.” (Nossa!! Como
aumentou!!)
“O presidente de honra é um jovem septuagenário de 81 anos.” (Jovem de
81 anos?! Septuagenário não seria correspondente a 70?? Quanta confusão!!!)
“Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio, trata-se de um
incêndio.” (Ah.. pensei que fosse um churrasco!)
“Na chegada da polícia, o cadáver se encontrava rigorosamente imóvel.” (E
cadáver se mexe????)
“O cadáver foi encontrado morto dentro do carro.” (Alguém já viu um
cadáver vivo???)
“Prefeito de interior vai dormir bem, e acorda morto.” (E morto acorda???)
“A nova
terapia traz esperanças a todos os que morrem de câncer a cada ano.” (Na cova???)
– JORNAL DO BRASIL
“Apesar
da meteorologia estar em greve, o tempo esfriou ontem intensamente.” (O frio
não estava filiado ao sindicato grevista) – O GLOBO
“Os sete artistas compõem um trio de talento.” (Hã?) – EXTRA
“A vítima foi estrangulada a golpes de facão.” (Uma nova modalidade de
estrangulamento) – O DIA
“No corredor do hospital psiquiátrico os doentes corriam como loucos.”
(Naturalmente….) – O DIA
(Naturalmente….) – O DIA
“Ela contraiu a doença na época que ainda estava viva.” (Jura???) – JORNAL
DO BRASIL
“Parece que ela foi morta pelo seu assassino.” (Não diga!!) – EXTRA
“O velho reformado, antes de apertar o pescoço da mulher até a morte, se
suicidou.” (Depois de morto o homem ainda conseguiu matar a mulher???) – O DIA
“A polícia e a justiça são as duas mãos de um mesmo braço” (Que
aberração!!) – EXTRA
Cuidado com o que você diz!
No Curso de Medicina, o professor se dirige ao aluno e
pergunta:
- Quantos rins nós temos?
- Quatro! Responde o aluno.
- Quatro? Replica o professor, arrogante, daqueles que sentem
prazer em tripudiar sobre os erros dos alunos.
- Tragam um feixe de capim, pois temos um asno na sala.
Ordena o professor a seu auxiliar.
- E para mim um cafezinho!
Replicou o aluno ao auxiliar do mestre.
O professor ficou irado e
expulsou o aluno da sala. O aluno era Aparício
Torelly Aporelly (1895-1971), o 'Barão de Itararé'.
Ao sair da sala, o aluno
ainda teve a audácia de corrigir o furioso mestre:
- O senhor me perguntou
quantos rins 'NÓS TEMOS'. 'NÓS' temos quatro: dois meus e dois seus. 'NÓS' é
uma expressão usada para o plural. Tenha um bom apetite e delicie-se com o
capim.
terça-feira, 24 de julho de 2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
As leituras de Tufão em "Avenida Brasil"
Na
novela Avenida Brasil, a personagem Nina, vivida pela atriz Débora Falabela,
tem indicado livros de sua biblioteca particular a Tufão, interpretado por
Murilo Benício, que, inocentemente (pelo menos é o que aparenta), tem se
deleitado com as histórias de cada um deles. O que Tufão não sabe é que essas
indicações fazem parte de uma estratégia de Nina para abrir os olhos do patrão
em relação à mulher.
O
primeiro livro que a cozinheira emprestou ao ex-jogador foi “A metamorfose” de
Franz Kafka, uma das mais importantes obras da literatura mundial, conta a
história de um homem que é transformado em um inseto monstruoso, cheio de
patas. A partir de então, os pais se distanciam e a irmã também começa a sentir
medo dele. Mas, como era o único que trabalhava na casa, eles têm que arranjar
outro modo de sustento da família. Sozinho, o personagem se vê diante dos
conflitos de sua metamorfose, que vai muito além da questão física e destaca os
absurdos do comportamento humano.
O
segundo livro foi “Madame Bovary”, de Gustavo de Flaubert. O romance conta a
história de uma mulher que trai o marido. (Alguma semelhança com Carminha?)
“A
interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud foi outra obra lida por Tufão, cada
vez mais interessado em entender o comportamento humano.
Outra
leitura do patrão, também indicada pela cozinheira, foi “Memórias Póstumas de
Brás Cubas”, de Machado de Assis, cujo protagonista mantém um relacionamento
com uma mulher casada, Virgília. (Alguma lembrança de Carminha e Max?)
E
continuando a estratégia de tentar abrir os olhos de Tufão por meio de
mensagens ocultas, como não poderia deixar de ser, Nina indicou “Dom Casmurro”,
também de Machado de Assis. O romance aborda temas como ciúme e traição, a
partir da desconfiança de Bentinho, narrador-personagem, de que sua mulher,
Capitu, estaria lhe traindo com seu melhor amigo.
Cheias
de mensagens ocultas sobre a trama da novela, todas essas obras são excelentes
indicações para os amantes da boa leitura e para aqueles que querem se iniciar nessa área.
Fica
a dica.
domingo, 22 de julho de 2012
Lendo...
Bastante corajoso o Guia Politicamente Incorreto da
Filosofia, de Luiz Felipe Pondé ataca religiosos, feministas e critica os politicamente corretos dizendo que “são autoritários em sua
essência porque supõem estar salvando o mundo”.
Estou lendo e amando.
À medida que avanço na leitura, me surpreendo com frases memoráveis como:
“O futuro do mundo é ser brega.”
“Os homens não são iguais – os poucos melhores carregam o mundo nas
costas.”
“A pressão pela “crítica ao macho” contamina as relações. Porque, na
prática, as mulheres só aguentam a sensibilidade masculina até a página três.”
Uma obra que visa mudar a forma como enxergamos as coisas.
Vale muito a pena ler e se deliciar com as tiradas de Pondé.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Dica de leitura
O romance que inspirou a novela.
O romance entre o sírio Nacib e a mulata Gabriela, um dos
mais sedutores personagens femininos criados por Jorge Amado, tem como pano de
fundo, em meados dos anos 1920, a luta pela modernização de Ilhéus, em
desenvolvimento graças às exportações do cacau. Com sua sensualidade inocente,
Gabriela não apenas conquista o coração de Nacib como também seduz um
sem-número de homens ilheenses, colocando em xeque a lei que exigia que a
desonra do adultério feminino fosse lavada com sangue.
Publicado em 1958, o livro logo se tornou um sucesso mundial.
Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras mais
aclamadas mundo afora. E agora, mais uma vez, uma livre adaptação da
obra é sucesso na televisão brasileira.
A foto
Cuidado com o que você tatua em seu corpo!
Imagine uma pessoa passar tempos pra se decidir por fazer uma tatuagem e, depois de feita, descobrir que ela contém erros absurdos de português.
Mas... o que dizer desta?
Cuidado com a concordância!
“HAVIAM" COISAS
Felipe Pinheiro, meu
saudoso amigo, costumava fazer uma brincadeira que adoro repetir sobre a
epidemia do “pra mim fazer”. Quando um “pra mim andar” ou “pra mim comer” lhe
feria os ouvidos, meu compadre franzia as sobrancelhas e repetia, entre o
irritado e o desesperado: “Mim não faz nada! Mim não anda! Mim não come! Mim não faz coisa nenhuma!”.
Existem infindáveis
“mins” realizando façanhas por aí, com o risco, inclusive, de ser aceitos pela
norma culta. Se os que defendem que a linguagem já nasce com o homem estiverem
corretos, e o neném berrar na sala de parto seguindo a concordância, o “pra mim
errar” deve ser um defeito grave de fabricação.
Meu mim
não age. É dos poucos orgulhos que eu tenho do meu português. Tenho um
conhecimento pífio de gramática, escrevo de ouvido, herança da escola
experimental. Passei anos com medo de desejar um bom-dia por escrito ao João
Ubaldo Ribeiro. “Será que tem hífen?”, eu pensava. Um bloqueio assustador, como
se estivesse prestando um exame. Só usava frases curtas, quase bilhetes e,
mesmo assim, no sufoco.
Recentemente, eu me correspondi com um
conterrâneo do Ubaldo igualmente culto e amante da última flor do Lácio. Fui
bem, consegui desenvolver um raciocínio aceitável, mas, lá no fim do último
parágrafo da caudalosa epístola, escrevi que “haviam incongruências”. As
incongruências não importam, já o haviam…
“No Brasil, usamos o verbo ter no lugar do haver. ‘Tem um
buraco enorme do lado esquerdo.’ Pois bem, mesmo que fossem dois (ou sete)
buracos, o verbo permaneceria no singular: ‘tem sete buracos enormes do lado
esquerdo’. Igual a ‘há sete buracos enormes do lado esquerdo’. Até aí, tudo
bem, ninguém erra se usar o verbo haver: ninguém diz ‘hão sete buracos
enormes’. Mas, se vai para o passado, neguinho fica com medo de não fazer a
concordância e flexiona o verbo: ‘haviam sete buracos’. O certo é ‘havia sete buracos’.
Nem ‘houveram sete assaltos’ (saí do buraco porque não dá para fazer uma frase
convincente com buracos e o verbo no pretérito perfeito: houve, houveram; o
imperfeito é havia, haviam).
O certo é ‘houve sete assaltos’. Ou ‘teve sete assaltos’.
Claro que com o verbo ter você vai encontrar situações de flexão correta: ‘Os
bancos tiveram sete assaltos este mês’. Porque aí o sujeito da frase é ‘os
bancos’. É como dizer ‘os bancos sofreram sete assaltos’. Mas dizer que
meramente houve assaltos não implica ‘assaltos’ ser o sujeito. Houve o que
houve, há o que há, havia o que havia; o verbo haver aí é impessoal. O verbo
ter, quando o substitui em casos iguais, também.”
Agradeci
de joelhos a paciência e a aula, mas o lodaçal piorou. E existe? Existem sete
buracos? Ou existe sete buracos? Quem existe é o buraco, então, deve ser
existem. E os dias? “Hoje é 15 de setembro”? Ou “são 15”? As horas eu sei que
são. E faz? É impessoal ou não? “Fazem quinze anos” ou “faz quinze anos”? É
faz. A razão, segundo fui informada, beira a filosofia: é porque o tempo é.
O pediatra do meu filho tinha 14 anos quando enfrentou
uma sequência de zeros distribuída democraticamente pelo professor belga de
matemática do Santo Inácio. O pai recorreu a aulas particulares com um
conterrâneo do mestre. O europeu mal-humorado explicou que só existem quatro
operações relevantes: soma, subtração, multiplicação e divisão, depois,
escreveu na lousa: 2+2, 2-2, 2×2 e 2:2 e pediu que o aluno resolvesse. Quando o
rapaz terminou, o professor aconselhou um reforço em português. A dificuldade
estava na leitura do enunciado dos problemas. Todas as falhas de compreensão
pertenciam à lógica.
Nesse
quesito, português só perde para a física em matéria de dificuldade.
O pouco que fixei, hoje, só me serve para entregar a
idade.
A última reforma ortográfica dizimou os
acentos. O computador conserta, mas eu redigito o agudo do “o” de “jóia” e
“clarabóia”. Não aguento “joia” e “claraboia”. Vôo, também, não tem mais
circunflexo, virou “voo”. E não se distingue mais “história” de “estória”, uma
sutileza que me agradava imenso.
Depois de tanta ignorância confessa, só não peço demissão
por medo de redigir a carta.
Por
Fernanda Torres.
Crônica
publicada em junho/2012 na revista Veja Rio.
terça-feira, 12 de junho de 2012
Para os namorados...
Por que não incrementar seu presente hoje com uma cartinha de amor ou até mesmo um bilhetinho apaixonado?
Livros para os namorados
Que tal presentear seu amor com um livro?
Abaixo, duas sugestões bem legais. Mas, se você for a uma livraria, com certeza, encontrará outras.
domingo, 10 de junho de 2012
sábado, 9 de junho de 2012
10 de junho - Dia da Língua Portuguesa
10 de junho é o Dia da Língua Portuguesa.
Para comemorar esta data, resolvi postar aqui um vídeo com um pouco da exposição, no Museu da Língua Portuguesa, sobre Jorge Amado, ilustre baiano que tão bem usou e divulgou nossa língua no mundo todo.
Ah! Essa exposição chegará a Salvador em agosto e ficará, por alguns dias, no Museu de Arte Moderna da Bahia. Até lá, veja um pouco dela no vídeo abaixo.
http://www.youtube.com/watch?v=A2dF1MWiycI
http://www.youtube.com/watch?v=xkiuhwhPEB0
http://www.youtube.com/watch?v=Skl9-NTyy80
http://www.youtube.com/watch?v=EKarRdU-0pU
http://www.youtube.com/watch?v=fWHNp9uizjU
Quando a
crase muda o sentido
Muitos deixariam de ver a crase como bicho-papão se
pensassem nela como uma ferramenta para evitar ambiguidade nas frases
O emprego da crase costuma
desconcertar muita gente. A ponto de ter gerado um balaio de frases inflamadas
ou espirituosas de uma turma renomada. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, é
autor da sentença "A crase não foi feita para humilhar ninguém",
marco da tolerância gramatical ao acento gráfico. O escritor Moacyr Scliar
discorda, em uma deliciosa crônica "Tropeçando nos acentos", e afirma
que a crase foi feita, sim, para humilhar as pessoas; e o humorista Millôr
Fernandes, de forma irônica e jocosa, é taxativo: "ela não existe no
Brasil".
O assunto é tão candente que, em 2005, o deputado João Herrmann Neto, que
morreu em abril deste ano aos 63 anos, propôs abolir esse acento do português
do Brasil por meio do projeto de lei 5.154, pois o considerava "sinal
obsoleto, que o povo já fez morrer". Bombardeado, na ocasião, por
gramáticos e linguistas que o acusavam de querer abolir um fato sintático como
quem revoga a lei da gravidade, Herrmann Neto logo desistiu do projeto.
O acento grave (`) no a tem
duas aplicações distintas, explica Celso Pedro Luft (1921-1995) no hoje
clássico Decifrando a Crase (Globo, 2005: 16):
1) Sinalizar uma fusão (a crase): indica que o a vale
por dois (à = a a): "Dilma Rousseff compareceu às CPIs".
2) Evitar ambiguidade: sinaliza a preposição a em
expressões de circunstância com substantivo feminino singular, indicando que
não se deve confundi-la com o artigo a .
"Dilma Rousseff depôs à CPI". Sem a crase, a frase hipotética se
revela ambígua: Dilma destituiu a comissão parlamentar de inquérito ou apenas
deu depoimento à comissão? O sinal de crase tira a dúvida.
Sinalizar a contração entre vogais idênticas (no caso, a preposição a e
o artigo a )
é um desafio que, mesmo quando parece complicado, pode ser intuído pelo usuário
do idioma, em regras relativamente simples de ser incorporadas.
Ambiguidade
A grande utilidade do acento de crase no a ,
entretanto, que faz com que seja descabida a proposta de sua extinção por
decreto ou falta de uso, é a assinalada por Luft: crase é, antes de mais nada,
um imperativo de clareza.
Muitas frases em que a preposição indica uma circunstância (instrumento, meio
etc.), em sequências do tipo "preposição a +
substantivo feminino singular", podem dificultar a interpretação por parte
de um leitor ou ouvinte. Não raro, a ambiguidade se dissolve com a crase - em
outras, só o contexto resolve o impasse.
Exemplos de casos em que a crase retira a dúvida de sentido de uma frase,
lembrados por Luft em Decifrando
a Crase :
Cheirar a gasolina (aspirar)Xcheirar à gasolina (feder a).
A moça correu as cortinas
(percorrer) X A moça correu às cortinas.
(seguiu em direção a).
O homem pinta a máquina (usa pincel nela) X O homem pinta à máquina (usa uma
máquina para pintar).
Referia-se a outra
mulher (conversava com ela) X Referia-se à outra
mulher (falava dela).
Contexto
O contexto até se encarregaria, diz o autor, de esclarecer a mensagem em casos
como: "vimos a cidade"; "viemos a cidade". "conserto a
máquina"; "escrevo a máquina". Um usuário do idioma mais atento
intui um acento necessário, garantido pelo contexto em que a mensagem se
insere, se a finada testemunha do exemplo a seguir destituiu a relatora da OAB
ou prestou depoimento:
Morta a testemunha
que depôs a relatora da OAB.
Mas, em geral, contextos elípticos ainda deixariam dúvidas em exemplos do tipo:
"Fique a vontade onde está" ou "A sombra das raparigas em
flor".
(aspirar o combustível) (feder tal qual o combústivel)
"Fique a vontade onde está" indica que uma entidade metafísica
chamada "vontade" deve se manter suspensa ou que o interlocutor da
mensagem deve se sentir confortável?
A falta de clareza, por vezes, ocorre na fala, não tanto na escrita. Exemplos
de dúvida fonética, sugeridos por Francisco Platão Savioli, professor e
coordenador de gramática e texto no Anglo Vestibulares:
- "A noite chegou." Na linguagem falada há ambiguidade; na escrita,
com ou sem o acento, não. Alguém chegou à noite, ao escurecer? Ou foi a noite
que chegou no fim da tarde? Como saber o sentido de uma frase como essa, sem o
acento?
- "Ela cheira a rosa." A afirmação será ambígua, se oral. Se escrita,
terá sentidos diferentes, se houver o acento grave no a que precede
"rosa" ou se ele for dispensado. "Ela cheira a rosa"
significa que a dama aspira o perfume da rosa. Já "ela cheira à rosa"
indica que a princesa tem o perfume da flor. Na escrita, com a crase, nem é preciso
explicar ou entender o contexto.
- "Matar alguém à fome." Sem acento, alguém mata a própria fome. Com,
mata-se alguém pela fome. Como na África ou em ásperas periferias brasileiras.
Sem o sinal diacrítico, construções como essas serão sempre ambíguas. Nesse
sentido, a crase pode ser antes um problema de leitura do que prioritariamente
de escrita.
Em expressões com palavras femininas
(expressões adverbiais, conjuntivas e prepositivas), há o acento grave de
clareza, utilizado por tradição: "às vezes", "à moda de",
"à espera", "à medida que", "à custa de", "à
prova de" etc.
Embora com expressões adverbiais de instrumento o emprego do acento da crase
seja desaconselhado pelos gramáticos, seu uso é frequente no português
brasileiro, mesmo quando desnecessário: Escrever a máquina, a mão, a tinta, a
caneta (a lápis); ferir a faca (a cacete); calar a bala (a tiro), matar a
baioneta (a punhal). Acentua-se, se houver confusão de sentido. Alguém matará
uma baioneta? Coisa difícil. Quem aplica o sinal intui um chamado da mensagem
ao uso do acento grave de clareza. "Produzir a máquina" será fabricar
a máquina ou produzir com a máquina? Então: "Produzir à máquina". Por
isso, "pintar a mão" será pintar, desenhar na própria mão, como
amantes de tatuagens? Ou pintar com a mão, sem instrumentos, como fazem alguns
sensitivos? Então: "Pintar à mão".
Mesmo a regra da crase como índice de contração com "distância" tem
sido interpretada pelos usuários do idioma como dependente do contexto.
Pela regra tradicional, não há
acento, se a "distância" estiver indeterminada:
"Ficar a
distância". "Seguiu-a a distância". "Manteve-se a distância
segura". Se a "distância" estiver definida, determinada numericamente, há
acento:"Ficou
à distância de dois metros" . "Viu o corpo à
distância de três passos".
Influência
Há, no entanto, autores que sempre acentuam o a dessa locução. Não por acaso,
dicionários como Houaiss incorporam as diferenças de sentido que os usuários da
língua tendem a sentir ao usar a locução.
No sentido de "de longe" e "de um ponto distante", muitos
brasileiros sentem que faz sentido usar crase. Exemplo de Houaiss: "a
sentinela vigia à distância. Entende-se "à distância" como
"localizado a (certa) distância; distante, afastado". No sentido de
"ao longe" e "em um ponto distante" não se sentiria a
necessidade da crase: "viram algo movendo-se a distância".
O que os usuários intuem do sentido implícito à frase parece influir, por
exemplo, no uso da crase com nome próprio feminino, o que torna o acento muitas
vezes optativo: "Fizeram uma homenagem à Maria" revela mais
intimidade do que "Fizeram uma homenagem a Maria".
Assim também "desenhei a caneta" x "desenhei à caneta";
"a polícia recebeu a bala" x "a polícia recebeu à bala";
"dar à luz" x "dar a luz".
Expressões
Em crase, a intuição e a generalização de exemplos concretos podem ser mais
efetivas que a decoreba de regras.
Se intuímos a regra básica de que só se usa crase diante de palavras femininas
quando há uma preposição seguida de um artigo, evitamos ocorrências como
"à 80 km", "à correr" ou "à Pedro". Afinal, nunca
pensamos em crase com palavras masculinas ou verbos: daí não haver em "a
lápis", "a contragosto", "a custo".
Se lembramos que a crase serve para eliminar uma ambiguidade, também evitamos
tirar a crase em contextos que pedem, por exemplo, "à beira", "à
boca miúda", "à caça". Assim, fica muito mais fácil pensar a
crase.
Por: Luiz Costa Pereira Junior, com a colaboração de João Jonas Veiga Sobral.
Fonte: Revista Língua Portuguesa, nov. de 2009.
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