Que mais por sua desonra?... Honra
Falta mais que se lhe proponha?... Vergonha
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste socrócio*? ... Negócio.Quem causa tal perdição? ... Ambição.
E o maior desta loucura? ... Usura.
De um povo néscio* e sandeu*,
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.
[...]
E que justiça a resguarda?... Bastarda
É grátis distribuída?... Vendida
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
[...]
A Câmara (1) não acode? ... Não pode.
Pois não tem todo o poder? ... Não quer.
É que o governo a convence? ... Não vence.
[...]
(1) As Câmaras tinham grande poder no Brasil colonial: arrecadavam impostos, resolviam os problemas das comunidades, mantinham a segurança, estabeleciam relações com os governadores, etc.
*Socrócio: palavra criada pelo autor, indicando roubalheira, rapinagem.
*Néscio: ignorante.
*Sandeu: idiota.
PS: É incrível como, mais de três séculos depois, essas palavras de Gregório de Matos continuam tão atuais.
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