terça-feira, 24 de julho de 2012
segunda-feira, 23 de julho de 2012
As leituras de Tufão em "Avenida Brasil"
Na
novela Avenida Brasil, a personagem Nina, vivida pela atriz Débora Falabela,
tem indicado livros de sua biblioteca particular a Tufão, interpretado por
Murilo Benício, que, inocentemente (pelo menos é o que aparenta), tem se
deleitado com as histórias de cada um deles. O que Tufão não sabe é que essas
indicações fazem parte de uma estratégia de Nina para abrir os olhos do patrão
em relação à mulher.
O
primeiro livro que a cozinheira emprestou ao ex-jogador foi “A metamorfose” de
Franz Kafka, uma das mais importantes obras da literatura mundial, conta a
história de um homem que é transformado em um inseto monstruoso, cheio de
patas. A partir de então, os pais se distanciam e a irmã também começa a sentir
medo dele. Mas, como era o único que trabalhava na casa, eles têm que arranjar
outro modo de sustento da família. Sozinho, o personagem se vê diante dos
conflitos de sua metamorfose, que vai muito além da questão física e destaca os
absurdos do comportamento humano.
O
segundo livro foi “Madame Bovary”, de Gustavo de Flaubert. O romance conta a
história de uma mulher que trai o marido. (Alguma semelhança com Carminha?)
“A
interpretação dos sonhos”, de Sigmund Freud foi outra obra lida por Tufão, cada
vez mais interessado em entender o comportamento humano.
Outra
leitura do patrão, também indicada pela cozinheira, foi “Memórias Póstumas de
Brás Cubas”, de Machado de Assis, cujo protagonista mantém um relacionamento
com uma mulher casada, Virgília. (Alguma lembrança de Carminha e Max?)
E
continuando a estratégia de tentar abrir os olhos de Tufão por meio de
mensagens ocultas, como não poderia deixar de ser, Nina indicou “Dom Casmurro”,
também de Machado de Assis. O romance aborda temas como ciúme e traição, a
partir da desconfiança de Bentinho, narrador-personagem, de que sua mulher,
Capitu, estaria lhe traindo com seu melhor amigo.
Cheias
de mensagens ocultas sobre a trama da novela, todas essas obras são excelentes
indicações para os amantes da boa leitura e para aqueles que querem se iniciar nessa área.
Fica
a dica.
domingo, 22 de julho de 2012
Lendo...
Bastante corajoso o Guia Politicamente Incorreto da
Filosofia, de Luiz Felipe Pondé ataca religiosos, feministas e critica os politicamente corretos dizendo que “são autoritários em sua
essência porque supõem estar salvando o mundo”.
Estou lendo e amando.
À medida que avanço na leitura, me surpreendo com frases memoráveis como:
“O futuro do mundo é ser brega.”
“Os homens não são iguais – os poucos melhores carregam o mundo nas
costas.”
“A pressão pela “crítica ao macho” contamina as relações. Porque, na
prática, as mulheres só aguentam a sensibilidade masculina até a página três.”
Uma obra que visa mudar a forma como enxergamos as coisas.
Vale muito a pena ler e se deliciar com as tiradas de Pondé.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Dica de leitura
O romance que inspirou a novela.
O romance entre o sírio Nacib e a mulata Gabriela, um dos
mais sedutores personagens femininos criados por Jorge Amado, tem como pano de
fundo, em meados dos anos 1920, a luta pela modernização de Ilhéus, em
desenvolvimento graças às exportações do cacau. Com sua sensualidade inocente,
Gabriela não apenas conquista o coração de Nacib como também seduz um
sem-número de homens ilheenses, colocando em xeque a lei que exigia que a
desonra do adultério feminino fosse lavada com sangue.
Publicado em 1958, o livro logo se tornou um sucesso mundial.
Na televisão, a história se transformou numa das novelas brasileiras mais
aclamadas mundo afora. E agora, mais uma vez, uma livre adaptação da
obra é sucesso na televisão brasileira.
A foto
Cuidado com o que você tatua em seu corpo!
Imagine uma pessoa passar tempos pra se decidir por fazer uma tatuagem e, depois de feita, descobrir que ela contém erros absurdos de português.
Mas... o que dizer desta?
Cuidado com a concordância!
“HAVIAM" COISAS
Felipe Pinheiro, meu
saudoso amigo, costumava fazer uma brincadeira que adoro repetir sobre a
epidemia do “pra mim fazer”. Quando um “pra mim andar” ou “pra mim comer” lhe
feria os ouvidos, meu compadre franzia as sobrancelhas e repetia, entre o
irritado e o desesperado: “Mim não faz nada! Mim não anda! Mim não come! Mim não faz coisa nenhuma!”.
Existem infindáveis
“mins” realizando façanhas por aí, com o risco, inclusive, de ser aceitos pela
norma culta. Se os que defendem que a linguagem já nasce com o homem estiverem
corretos, e o neném berrar na sala de parto seguindo a concordância, o “pra mim
errar” deve ser um defeito grave de fabricação.
Meu mim
não age. É dos poucos orgulhos que eu tenho do meu português. Tenho um
conhecimento pífio de gramática, escrevo de ouvido, herança da escola
experimental. Passei anos com medo de desejar um bom-dia por escrito ao João
Ubaldo Ribeiro. “Será que tem hífen?”, eu pensava. Um bloqueio assustador, como
se estivesse prestando um exame. Só usava frases curtas, quase bilhetes e,
mesmo assim, no sufoco.
Recentemente, eu me correspondi com um
conterrâneo do Ubaldo igualmente culto e amante da última flor do Lácio. Fui
bem, consegui desenvolver um raciocínio aceitável, mas, lá no fim do último
parágrafo da caudalosa epístola, escrevi que “haviam incongruências”. As
incongruências não importam, já o haviam…
“No Brasil, usamos o verbo ter no lugar do haver. ‘Tem um
buraco enorme do lado esquerdo.’ Pois bem, mesmo que fossem dois (ou sete)
buracos, o verbo permaneceria no singular: ‘tem sete buracos enormes do lado
esquerdo’. Igual a ‘há sete buracos enormes do lado esquerdo’. Até aí, tudo
bem, ninguém erra se usar o verbo haver: ninguém diz ‘hão sete buracos
enormes’. Mas, se vai para o passado, neguinho fica com medo de não fazer a
concordância e flexiona o verbo: ‘haviam sete buracos’. O certo é ‘havia sete buracos’.
Nem ‘houveram sete assaltos’ (saí do buraco porque não dá para fazer uma frase
convincente com buracos e o verbo no pretérito perfeito: houve, houveram; o
imperfeito é havia, haviam).
O certo é ‘houve sete assaltos’. Ou ‘teve sete assaltos’.
Claro que com o verbo ter você vai encontrar situações de flexão correta: ‘Os
bancos tiveram sete assaltos este mês’. Porque aí o sujeito da frase é ‘os
bancos’. É como dizer ‘os bancos sofreram sete assaltos’. Mas dizer que
meramente houve assaltos não implica ‘assaltos’ ser o sujeito. Houve o que
houve, há o que há, havia o que havia; o verbo haver aí é impessoal. O verbo
ter, quando o substitui em casos iguais, também.”
Agradeci
de joelhos a paciência e a aula, mas o lodaçal piorou. E existe? Existem sete
buracos? Ou existe sete buracos? Quem existe é o buraco, então, deve ser
existem. E os dias? “Hoje é 15 de setembro”? Ou “são 15”? As horas eu sei que
são. E faz? É impessoal ou não? “Fazem quinze anos” ou “faz quinze anos”? É
faz. A razão, segundo fui informada, beira a filosofia: é porque o tempo é.
O pediatra do meu filho tinha 14 anos quando enfrentou
uma sequência de zeros distribuída democraticamente pelo professor belga de
matemática do Santo Inácio. O pai recorreu a aulas particulares com um
conterrâneo do mestre. O europeu mal-humorado explicou que só existem quatro
operações relevantes: soma, subtração, multiplicação e divisão, depois,
escreveu na lousa: 2+2, 2-2, 2×2 e 2:2 e pediu que o aluno resolvesse. Quando o
rapaz terminou, o professor aconselhou um reforço em português. A dificuldade
estava na leitura do enunciado dos problemas. Todas as falhas de compreensão
pertenciam à lógica.
Nesse
quesito, português só perde para a física em matéria de dificuldade.
O pouco que fixei, hoje, só me serve para entregar a
idade.
A última reforma ortográfica dizimou os
acentos. O computador conserta, mas eu redigito o agudo do “o” de “jóia” e
“clarabóia”. Não aguento “joia” e “claraboia”. Vôo, também, não tem mais
circunflexo, virou “voo”. E não se distingue mais “história” de “estória”, uma
sutileza que me agradava imenso.
Depois de tanta ignorância confessa, só não peço demissão
por medo de redigir a carta.
Por
Fernanda Torres.
Crônica
publicada em junho/2012 na revista Veja Rio.
Assinar:
Postagens (Atom)