segunda-feira, 10 de junho de 2013

10 de junho - Dia da Língua Portuguesa

Declaração de amor


                                                                                                                           Clarice Lispector


Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro ponta
pé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Ás vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la — como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E esse desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.


                                 In A Descoberta do Mundo (1984), reunião das crónicas publicadas no Jornal do Brasil, de 1967 a 1973.

domingo, 19 de maio de 2013

Nossa língua merece cuidados!

Não sei se estou sendo muito otimista, mas acho que todos estamos cansados de saber que o oposto (contrário, antônimo) de BOM  é MAU, e o de BEM é MAL. Porém, não sei o que acontece com as pessoas (falta de atenção, talvez) que normalmente escrevem MAL quando deveriam escrever MAU e vice-versa.Foi o que flagrei hoje cedo num conceituado site de notícias daqui de Feira de Santana. Na expressão MAU GOSTO, o adjetivo foi grafado com L. Isso mesmo: MAL GOSTO.

Fiz um print da página para vocês conferirem.


domingo, 5 de maio de 2013

O verbo Flor



O verbo flor 
É conjugável 
Por quase todas 
As pessoas 
Em certos tempos 
Definidos 
A saber: 
Quase nunca no outono 
No inverno quase não 
Quase sempre no verão 
E demais na primavera 
Que no coração 
Poderá durar 
E ser eterna 
Quando o coração conjugar: 
Quando eu flor 
Quando tu flores 
Quando ele flor 
E você flor 
Quando nós 
Quando todo mundo flor.



(canção de Renato Rocha. CD: MPB-4 - Adivinha O Que É)

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Quando usar os pronomes TE e TI.

Comumente, encontro no facebook postagens com o emprego inadequado do pronome "ti". Hoje, encontrei esta em que ele foi empregado em perfeito acordo com o padrão culto da língua. 

E para não errar mais, entenda a regra de uso dos pronomes "te" e "ti"

"Ti" sempre é acompanhado de preposição (a, contra, de, em, por etc.), como ocorre em "culpe a ti mesmo", na imagem ao lado.


"te" deve ser usado como complemento de verbo que não necessita de preposição.

Veja alguns exemplos:

Ela gosta muito de ti. / Eles confiam muito em ti./ Nós não estamos contra ti.

Nós te amamos muito. / Eu te amo. / Eu quero te ajudar.

ATENÇÃO: Essa regra também se aplica para os pronomes SE e SI.








Banda ensina português com rock educativo


Com letras sobre pronomes, adjetivos, verbos e outras classes gramaticais, a banda Sujeito Simples usa o rock and roll para ensinar temas da língua portuguesa. 


Abaixo um dos dois cds da banda. Muito bom!


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Atenção à concordância

Há alguns dias, fotografei estas duas placas com problemas de concordância semelhantes.
Veja:



Nesse caso, o adjetivo "permitida" só poderia estar assim flexionado (no feminino), se o termo "entrada" estivesse antecedido pelo artigo "a". Como isso não ocorre, a frase deve ser escrita dessa forma: Permitido entrada somente de funcionários (ou poderíamos optar pelo acréscimo do artigo, ficando assim: Permitida a entrada de funcionários).




Nessa outra placa, ocorreu o contrário com o adjetivo "proibido". Como o substantivo "entrada" está antecedido pelo artigo "a", ele deveria ser grafado no feminino. Assim: Proibida a entrada de pessoas perfeitas.


Essa regra  também é válida para frases com as expressões "é bom", "é proibido", "é permitido".

Ex.: É proibida a entrada de pessoas sem camisa. / É proibido entrada de pessoas sem camisa.
       Não é permitida a entrada de crianças neste local. / Não é permitido entrada de crianças neste local.
       

Resumindo: Em frases com essas expressões, o adjetivo (bom, permitido e proibido)só será variável  se o sujeito vier acompanhado de um determinante (artigo, pronome).


Quatro já são demais!



Já disse em  uma outra postagem que erros ortográficos e gramaticais podem comprometer a credibilidade de um jornal. Quando há uma ou duas ocorrências, muitas vezes, por um instante de desatenção, tudo bem, mas quando em uma mesma edição de jornal, ocorrem quatro graves desvios do padrão culto da língua, fica complicado. 

Veja o que encontrei, há alguns meses, lendo um jornal na sala de espera de uma oficina mecânica.



"Alta estima"? 
Correção: Autoestima. (Isso mesmo. Com o acordo ortográfico, agora deve ser escrito junto e não mais com hífen.)





 Nesse caso, temos dois problemas: a ausência do acento agudo na forma verbal "É", na segunda frase, que deveria estar escrita assim: "É o que esperamos do novo governo", e o fato de a vírgula não ter sido empregada depois da palavra "Parabéns" para isolar o vocativo "Prefeito José Ronaldo de Carvalho".






Acima, deslize que eu considero grave. A forma verbal "beneficiará" deveria estar no plural para concordar com o substantivo "projetos".
Correção: Assembleia aprova projetos que beneficiarão 22 mil servidores.